quinta-feira, 30 de julho de 2009

A Praga da Intelectualidade

É sabido, creio eu, por todos, que vivemos em um mundo díficil. Sabemos é claro que passamos por dificuldades, que a maioria das pessoas são más, oportunistas e que querem, e na verdade, irão, nos passar a perna quando lhes for dada a chance.

Entretanto, o que venho discutir aqui não é sobre esses males, mas sim sobre o maior desses males: a praga da intelectualidade.

Para ilustrar o que eu quero dizer com praga da intelectualidade, gostaria de citar por exemplo, a polícia militar. Em teoria, é a polícia a responsável pela manutenção da ordem em nossa sociedade. É sua função a proteção do cidadão, o patrulhamento das ruas e o zelar do bem-estar social, pelo menos no tocante à violência. Para o desempenho de tal tarefa, diversos poderes legais são atribuidos para a polícia, como por exemplo o porte de armas, a escolta, a interpelação, a multa entre outros. Ou seja, o Estado fornece a esta polícia a capacidade de combater a infração à lei, através de treinamentos e poderes legais. Agora, que dizer do respeito à lei, se os seus próprios fiscais, idealizadores e zeladores a descumprem? Como pode um policial que espanca um cidadão exigir respeito por parte de alguém? Como pode ele pedir que a lei seja cumprida, quando ele mesmo não cumpre com a parte que lhe cabe? E como pode ele seguir e fiscalizar essa lei, se aqueles que a elaboram não a respeitam? É uma contradição tamanha!

Este exemplo puxa o que eu quero dizer a respeito da intelectualidade. Notei, por meio de pessoas que eu conheço, uma estranha tendência das pessoas inteligentes: a tendência da arrogância, que se segue ao derrotismo e a imobilidade. Pegamos uma pessoa um pouco mais inteligente que a média, e o seu comportamento mais comum é um desprezo e descaso com o mundo, que beira ao egoísmo. "O mundo é uma merda", dizem eles enquanto tomam vinho e escutam música clássica, chamando todos que gostam de outro gênero musical de aculturados. "O que vai adiantar eu tentar mudar as coisas, se desde o início da história pessoas tentam fazer isso e nunca deu certo?" dizem outros fumando maconha e reclamando das coisas. "Pra que eu vou me matar de estudar, se ninguém presta nesse mundo?" dizem outros enquanto passam seus dias jogando videogames, tirando notas baixas, e justificando sua preguiça jogando a culpa no mal do mundo. Outros, menos imóveis, já decidem não ficar parados: fazem passeatas, vão de visual punk rock na escola, chamam seus colegas de hipócritas e gritam pela revolução, mas quando questionados em o que há de errado com o mundo, sua resposta reduz-se a dizer que a burguesia fede, que o capitalismo é ruim e que o mundo está errado. Pessoas sem nenhuma proposta, os típicos rebeldes sem causa.

Talvez isso seja uma tendência nas pessoas mais inteligentes, causada provavelmente por um conhecimento maior. É sabido que a maioria das pessoas inteligentes têm problemas de socialização em algum momento da sua vida escolar. Talvez essa arrogância seja uma defesa natural, algo para dizer "vivam suas vidinhas medíocres, eu entendo o mundo melhor que vocês, e sei que nada que vocês estão fazendo é útil". Provavelmente essa pessoa inteligente vai chegar ao ponto de achar-se a pessoa mais inteligente do mundo, e tratar a todos com desprezo. A arrogância então, converte-se a descaso, que converte-se ao imobilismo e ao derrotismo.

Em outros casos, pode ser simplesmente escapismo. A pessoa é preguiçosa, é por não querer admitir o fato, joga a culpa no mundo, alegando que ele não merece o esforço.

E outra hipótese pode também ser o fator social. Pessoas que sentem-se infelizes e sem amizades provavelmente não verão motivos para lutar e mudar o mundo. E também Hollywood adora mostrar nos filmes de "críticas sociais", com ladrões e golpistas sagazes e inteligentes, que quando questionados quanto a moralidade de suas ações, dizem fazer isso pois o mundo é ruim e eles não estão sendo piores que ninguém, assim pintam pseudo-intelectuais de pessoas bacanas e legais, o tipo de intelectual que todo inteligente gostaria de ser: tomar seu vinho, fumar seu cigarro olhando do alto do seu prédio e maldizendo o mundo e as pessoas por sua hipocrisia.

O que não percebem estas pessoas é como suas atitudes são previsíveis. Buscando um comportamento diferente, eles engrossam o caldo e caem na mesma ciclicidade que milhares de pessoas passam no mundo, agindo de maneira enfadonhamente igual a uma grande parcela da população. Ou talvez não percebam que o bonito do mundo não são coisas grandiosas, mas sim coisas simples e pequenas, como o desabrochar de uma flor, o nascer do sol, uma conversa até tarde com um amigo ou uma música no momento certo. Mas claro, é mais fácil praguejar e reclamar, ficando de braços cruzados, do que quebrar a cabeça e dedicar-se a mudar alguma coisa.

Se existem pessoas com poderes de mudar o mundo, são as pessoas inteligentes. O mundo é governado pela inteligência, e a inteligência, sendo a primazia da raça humana, o nosso legado, é o que faz o mundo ser como ele é. A inteligência é que traz o poder da análise, e a proposta de mudança. E se há uma coisa que eu considero frustrante, é ver pessoas com poderes para impedir o mal cruzarem os braços. Daí o exemplo da polícia. Esses inteligentes agem assim, da mesma forma que a polícia, desperdiçando sua capacidade de mudança e ajudando o mundo a ficar nessa bagunça e inércia. Digo mais, se deixar de fazer o bem é ajudar o mal, então são estas pessoas as responsáveis por todo o mal que tanto acusam o mundo de ter.

Diferente sim é lutar.Se queremos romper essa batalha sísifica, esse eterno cíclo que enxeu nossa história de vergonhas, trapaças e sangue, então devemos começar parando com escapismos e derrotismos fúteis. Devemos sim, erguer nossas cabeças e nos mostrar dispostos a batalhar cada dia, cada minuto e cada segundo contra o que há de errado nesse mundo, devemos nos mostrar dispostos a contrariar todos aqueles que insistem em permanecer em seu imobilismo e sua inércia. Devemos ter em mente que o importante não é vencer, mas sim lutar. O importante não é vencer, e sim mostrar de que lado você está, e se mostrar disposto a morrer ao invés de curvar-se a absurdos como os que vemos hoje. Só assim poderemos mostrar como o mundo deveria ser.

Gandhi, quando foi de sua visão o conhecimento, batalhou e mudou a Índia inteira. O que aconteceria se todos tivessem essa determinação? Será que é realmente impossível mudar alguma coisa? Ou será que é mais cômodo acreditar nisso e viver nossas vidas reclamando?

"Não sabemos se seremos vitoriosos, entretanto, o desejo que nos move é lutar contra o imobilismo, ao invés de assistir passivamente o dramático curso da história"
Michèle Sato

"Grandes poderes trazem grandes responsabilidades."Tio Ben (Homem Aranha)

Espero assim, que esse texto possa ajudar a essa minoria que batalha desesperadamente cada dia, a encontrar os companheiros que deveria ter, mas que estão nesse momento torcendo o nariz, sentados e reclamando.

Um comentário:

****Josi**** disse...

Não me sinto mais sozinha me debatendo contra a maré. Acho que todo mundo foca muito no tamanho e quantidade de coisas enormes que precisam ser feitas para que tenhamos um mundo melhor, em algum futuro (próximo ou distante)que seja e desconsidera automaticamente o poder que ações locais podem ter. Ainda creio que cada pessoa, em seu pequeno mundo, com suas boas ações, possam se beneficiar da reação em cadeia para que tais ações atinjam uma comunidade inteira. Parabéns pelo blog! =D