quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Lembranças de algum outono

Lembra você meu amigo de algum outono?




Ah, como se aqui no Brasil houvessem outonos...me desculpem os estrangeiros. Mas outonos existem. Mesmo que não sejam estações do ano, e sim estações da alma.




Era aquele campo com folhas amareladas, o qual o vento percorria livre como uma donzela a valsar em um magnífico baile. A folhagem obedecia a passagem do vento como um súbito obedece a um rei.




Algumas árvores com folhas amareladas preenchiam de relance a paisagem, dando ao lugar um aspecto mais hermético, sem no entanto ser um campo sufocante e fechado.




Pedras se espalhavam pelo canto. Talvez esperando que alguém resolvesse criar algum tipo de brincadeira. Talvez esperando que algum pulasse de pedra em pedra. Talvez apenas ali descansando de toda a vileza do mundo. Ali a alma se expandia. Ali o Sol se abria.




O Sol era daquele final de tarde...parecido com aquele que enxergamos quando voltamos do cinema com a família, ou ainda aquele Sol que vemos quando lembramos que existe um mundo lá fora e saímos do nosso quarto para olhar o céu. As nuvens que cobriam o Sol de relance criavam uma espécie de mosáico luminoso, visão difícil de descrever por palavras, mas fácil de se entender pelo coração.




No meio desse campo existia uma pequena colina. No alto, junto com alguns arbutos e árvores uma pequena mesa. Na qual sentavam dois garotos.




Um tinha cabelos castanhos, olhos cor de mel e um sorisso capaz de comover reis. O outro tinha a aparência do sentimento, os cabelos da cor do amar, os olhos que chamam sem falar.




O segundo menino disse timidamente:


-Lembra de quando brincávamos livremente nesse campo da aurora ao alvorecer? Tomavámos banho de cachoeira, andávamos de bicicleta, venerávamos o mesmo Deus? Ríamos das mesmas inocências, choramos um a dor do outro, abraçávamos por carinho. Brincávamos como irmãos.




O primeiro:


-Desculpa, não me lembro. Tudo isso aconteceu em apenas um ano? Nos conhecemos no ano passado...




-Achei que não lembraria...


disse o segundo enquanto uma tímida lágrima escapava do rosto.




-Não compreendo, acaso queres que eu conjure memórias que não aconteceram?


Pergunta confuso o primeiro.




-Isso aconteceu sim meu amigo...talvez em alguma outra estação...talvez sob algum outro olhar.




E os dois se abraçaram.


O vento acariciava.


O Sol sorria.


O texto acabava.




"Existem pessoas que fazem do Sol uma simples mancha amarela. Mas existem pessoas que fazem de uma simples mancha amarela, um Sol." - Pablo Picasso




"Existem duas formas de se viver a vida: uma é como se não existissem milagres. A outra é sabendo que tudo na vida é um milagre." - Albert Einstein




"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas sim na intensidade em que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis." - Fernando Pessoa.




Paz Inverencial.


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